O Grupo Flor de Manacá teve início no dia 05 de
setembro do ano de 2006, o nosso objetivo era fazer uma releitura dos textos
bíblicos por meio de uma hermenêutica de suspeita. De lá pra cá o grupo tem se
permitido encontrar o caminho para uma melhor compreensão do texto bíblico,
caminho este que difere dos padrões tradicionais de hermenêutica bíblica até
agora apresentados de forma a nos silenciar, assim nos impedir de confrontarmos
com o que a tradição cristã nos ensinou, aceitando assim a ideia de que a
escritura é inquestionável, portanto deverá ser aceita e obedecida. Cada
encontro nos faz sentir como se estivéssemos numa expedição arqueológica, cada
camada descoberta representa o conhecimento da existência de um povo e é assim
que nos sentimos ao estudar os “vestígios” encontrados em cada “escavação
bíblica”. Escavar cada texto bíblico é como estar num sítio arqueológico onde a
cada avanço descobrimos histórias cheias de mistério e ao mesmo tempo
fascinantes. Sinto que a melhor parte que escolhemos foi “investigar” a memória
dessas mulheres, transgressoras, trapaceiras, amadas, amantes, enfim mulheres.
Para os arqueólogos escavar um sítio arqueológico se assemelha comer um bolo
delicioso que contém as sucessivas camadas de nossa História. Essa talvez seja
a melhor forma de descrever o nosso trabalho.
Esse novo jeito de ler a bíblia, numa perspectiva de
gênero, tem nos proporcionado a oportunidade de resgatar as histórias de
mulheres que com muita coragem lutaram contra a exclusão, a discriminação e a
dominação. As leituras que fazemos tem nos dado privilégio de conhecer as
experiências e dialogar com essas corajosas e resistentes mulheres, cujas
histórias estão contidas nos textos, nos identificando com suas experiências de
vida dentro do seu cotidiano. Resgatar a memória dessas mulheres tem nos
desafiado a percorrer caminhos que nos levará a uma mudança de mente, de corpo,
de coração e alma. Com elas aprendemos discutir questões como a prática da
justiça, de compromisso e solidariedade, pois elas viviam dentro de um mundo
patriarcal, onde eram silenciadas e, portanto, proibidas de expressarem
qualquer sentimento de resistência. Com elas temos sido desafiadas e provocadas
a resistirmos a qualquer atitude que nos são impostas e que nos fazem sentir
violentadas dos nossos sonhos e desejos.
Ao estudarmos os textos levando em consideração a
questão de gênero, tem nos proporcionado conhecer um Deus que é Pai e Mãe, que
seu agir independe do sexo, da raça e da condição social, destruindo aquilo que
nos foi ensinado com intenção de “camuflar” os sistemas opressores existentes nas
tradições bíblicas que sempre mostrou a mulher num espaço inferior, num lugar
de escravidão. Esse novo momento que estamos vivendo, nos permite quebrar
paradigmas, romper preconceitos, lançando um novo olhar onde podemos contemplar
um Deus libertador que se aproxima dos oprimidos (pobres, viúvas, crianças,
negros e homossexuais).
Desta forma, a cada dia podemos ver e sentir que essas
descobertas têm nos levado a caminhos e mudanças de atitudes e comportamentos,
sabendo que essa opção poderá ser um processo doloroso, mas cheio de esperança
e necessário rumo à libertação, e consequentemente de um mundo melhor onde
homens e mulheres serão um só. Como grupo decidimos ir mais além, fazendo
memória também de um grupo de mulheres muito especiais, “AS MATRIARCAS”. Nas
páginas seguintes elas estarão presentes com suas histórias de vida. Esperamos
que estas histórias sejam fonte de esperança e vida, junto a um Deus
companheiro e libertador.
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