O grupo de Bíblia e gênero da IBP carregou no útero
este sonho. Juntas sonhamos, sofremos e trabalhamos. Sentimos dores de parto!
Mas, agora compartilhamos com vocês a nossa alegria: “Bendito é o fruto do
nosso ventre!” Fecundar outros úteros, disseminar, espalhar nossas sementes de
ideias, sonhos e esperanças. Compartilhar nossas conversas, desconstruções e
reconstruções em torno da leitura da Bíblia. Este é o nosso objetivo.
Flor de Manacá é o nome que juntas escolhemos para
batizar esse projeto. Flor preferida de uma pequena/grande mulher, Irmã Moça,
como era conhecida a nossa matriarca Olímpia, 83 anos de vida, de quem nos
despedimos em dezembro de 2007. Ela, mulher nordestina que de forma aguerrida
criou sozinha suas seis filhas e seis filhos. Abandonada pelo seu marido, lutou
bravamente por sobrevivência digna para ela e os seus doze filhos. Foi assim
que conseguiu resistir e vencer. Mulher de fé protestante, sólida, demonstrou
um espírito livre, capaz de acompanhar mudanças e até se antecipar-se a
algumas. Trabalhou ao lado de padres e freiras no posto de saúde. Desenvolveu
amizades e parcerias com católicos, espíritas, num verdadeiro sentimento
ecumênico de relações de vida e serviço em favor dos mais pobres. Mulher sem
dúvida nenhuma admirável. Matriarca da gente! Ela se torna símbolo de luta e
resistência. É em “memória dela” que fazemos essa merecida homenagem. A flor de
manacá tem muito em comum com a irmã Moça, com as mulheres da Bíblia, com as
mulheres nordestinas e com todas as mulheres. Resistência, capacidade de
sobreviver e reproduzir-se em condições difíceis, mantendo a beleza das cores.
Tudo isso traduzido em uma bela floragem de cores branca, rosa e lilás.
A flor de Manacá é da Espécie: Tibouchina mutabilis,
T. pulchra. Em outras palavras poderíamos traduzir assim: Mutação e beleza! São
características da flor de manacá que originaram o nome científico da espécie.
Por suas flores mudarem de cor: mutabilis, e por sua rara beleza: pulchra (bela
em latim). Pequeno arbusto, porém forte e resistente, floresce em capoeirões,
incomum em matas mais desenvolvidas. Sua madeira é macia e é muito utilizada
para vigas e caibros para obras internas e esteios e morões para lugares secos,
ou seja, sua madeira simples e forte oferece segurança para estrutura interna
das casas simples do nordeste brasileiro. Suas sementes são minúsculas e podem
ser levadas pelo vento, estando prontas para colheita entre fevereiro e março.
Pioneira e colonizadora de áreas abertas, prestam-se muito bem para a
recuperação de áreas degradadas, crescendo rapidamente, protegendo o solo em
poucos anos. Regenera-se abundantemente na natureza. E não são assim também
essas mulheres? Pioneiras! Colonizadoras! Desbravadoras! Muitas delas tão
pequeninas, quase não são percebidas, porém suas sementes estão espalhadas nas
histórias da Bíblia, pelo Nordeste e Brasil a fora!
A flor de manacá apresenta uma capacidade de mudança
ainda mais profunda do que outras flores. Isto está bem representado em suas
flores de três cores, decorrentes do amadurecimento diferencial das partes
masculina e feminina, sendo as brancas, recém-abertas, funcionalmente femininas
(recebem pólen de fora). As rosadas na fase de amadurecimento, e as roxas ou
lilases são as flores velhas, masculinas, liberando pólen. Somos assim também,
constantemente em processo de mutações. Cada fase vivida em sua intensidade
produz experiências profundas que trarão cor e beleza ao conjunto da vida.
A combinação das partes feminina e masculina traduz
profeticamente o sonho de um modelo de relações entre homens e mulheres baseado
mais na complementariedade e menos na oposição. Ser mulher é isto... Ser homem
é aquilo... Muitas destas definições são construções mais culturais que
biológicas. O modelo patriarcal de sexualidade hegemônica seja masculino ou
feminino está em crise. É hora de construir novos modelos capazes de superar o
dualismo e sexismo da cultura patriarcal. Este é um desafio para nós mulheres e
homens do século XXI. Leonardo Boff, diz que toda pessoa humana é portadora
destes dois princípios essenciais (masculino e feminino). A re-ligação destes
princípios em homens e mulheres levaria a uma nova humanidade. Apesar de
reconhecer ser esta uma tarefa difícil, me inspira a figura humana de Jesus de
Nazaré que para mim é o exemplo maior de humanidade integral. Essas são as
diferentes cores do nosso projeto, da nossa revista que se abre como a flor de
manacá para receber o pólen de leitor@s.
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