Historicamente
as igrejas batistas tiveram organizações femininas que visavam reunir mulheres
e trabalhar temas relacionados ao “universo feminino”, mas a lógica e conteúdo
dessas organizações sempre foram em sua maioria legitimadora e reprodutora de
conceitos e padrões patriarcais e marcada pela reprodução sistemática de
conteúdos prontos, sem qualquer articulação com os grandes dilemas sociais,
políticos, culturais, e mesmo espirituais que tocam especificamente a vida de
mulheres em seus contextos mais específicos.
A Bíblia
por sua vez sempre teve valor imensurável e, portanto, sempre esteve presente
na prática dessas organizações de mulheres, porém sempre trazida numa lógica e
argumento patriarcal reforçando posturas como culpabilização da mulher pelo
pecado original, submissão e legitimação da desigualdade entre homens e
mulheres. As histórias ou narrativas bíblicas foram sempre usadas para reforçar
certo tipo de comportamento e virtudes nas mulheres de cristãs “piedosas” com
discursos de subserviência voluntária como virtude cristã.
No ano de
2006, o grupo Flor de Manacá foi organizado na Igreja Batista do Pinheiro como
um grupo de Bíblia e gênero que visava interpretar textos bíblicos a partir de
uma perspectiva feminista, inaugurando, assim, na Igreja Batista do Pinheiro
uma nova possibilidade de relação com a Bíblia, marcada por uma metodologia de
leitura popular e feminista da Bíblia e pela relação direta com os dilemas
enfrentados no cotidiano das pessoas que vivem nessas comunidades.
A
iniciativa foi de um grupo de mulheres da própria igreja, que começou a se
reunir com o objetivo de ler a Bíblia a partir da perspectiva de gênero. O
grupo surge provocado por duas realidades: a primeira delas é a situação de
vida de uma grande parte de mulheres nordestinas que ainda sofrem com o peso
cultural do discurso machista e violento perpetuado por parte da cultura
nordestina; a outra realidade que provocou o grupo diz respeito à forma como o
discurso bíblico e religioso é legitimador dessa cultura machista que foi e
continua sendo incorporado pela cultura nordestina. Muitos homens e
principalmente mulheres vivem debaixo do jugo das muitas leituras patriarcais,
opressoras e violentas, que têm gerado relações injustas, medo, dor e marcas
profundas.
O nome flor
de manacá foi inspirado na história de uma matriarca da comunidade e sua paixão
pelos “ pés de manacá”, arbustos que dão flores mutáveis. As flores de manacá
nascem lilás, depois ficam rosada e no último ciclo ficam brancas. Mudam de cor
de acordo com suas fases de amadurecimento “A flor de manacá tem muito em comum
com essa matriarca da comunidade (irmã Moça como era conhecida), com as
mulheres da Bíblia, com as mulheres nordestinas e com todas as mulheres:
“resistência, capacidade de sobreviver e reproduzir-se em condições difíceis, mantendo
a beleza das cores. Tudo isso traduzido em uma bela floragem de cores branca,
rosa e lilás. ” O grupo Flor de Manacá
em 2016 completa 10 anos de uma leitura bíblica libertadora e transformadora. Com o lema: Mulher, Bíblia e Nordeste, o Grupo
Flor de Manacá busca caminho de libertação, de cura e de reconstrução que traga
vida melhor para mulheres nordestinas através da releitura da Bíblia”.
Pra. Odja Barros
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